'Alagoas não é o estado mais corrupto do mundo', diz procurador Rodrigo Tenório

Ele lamenta que hoje se 'brinca' de examinar as irregularidades eleitorais

Durante o evento de lançamento da cartilha de Combate à Corrupção Eleitoral da Igreja Católica, o procurador regional eleitoral, Rodrigo Tenório, sustentou a tese de que para se combater os crimes eleitorais em Alagoas ainda é preciso avançar muito e sair do “campo genérico”, mobilizando a população em denúncias com mais substância.
O procurador deu uma verdadeira aula de como se deve encarar a corrupção. 
“A forma como as denúncias chegam hoje em dia, de maneira genérica, atrapalham mais do que ajudam. É preciso que a própria população se mobilize. O cidadão é que é o verdadeiro onisciente neste processo”, complementou.
Rodrigo Tenório apresentou dados da corrupção no país, no mundo e em Alagoas e demonstrou otimismo em relação às mudanças de cenário. “Nosso Estado não é o mais corrupto do mundo. Alagoas é tão corrupta quanto os outros. O que precisamos é perder este complexo de inferioridade para combater o problema”, frisou.
Tenório foi incisivo ao atacar os “achismos” sobre o tema. 
“Brincamos de examinar a corrupção eleitoral e ficamos na generalidade. Não se caminha com base em chutes. É preciso informa-ção concreta e dados. Precisamos criar um método de análise. É preciso dividir o problema em várias partes para poder analisá-lo com base nestes dados, entendendo o contexto no qual estamos inseridos. As informações sobre o nosso Estado”, salientou ainda.
Segundo Tenório, ao se pensar em corrupção não se pode pensar em riqueza, “mas sim em pobreza”. 
“O Brasil - no ranking da corrupção - ocupa uma colocação mediana. A conclusão que se pode tirar dos estudos é que quando mais pobre uma localidade, mas corrupção existe lá. Países com menor renda per capital, que são o primeiro lugar em pobreza, são também o primeiro lugar neste tipo de crime. Daí, você imagina algumas localidades do nosso Estado. Por isso que precisamos avançar neste combate”, afirmou.O procurador salientou que hoje - muitas das ações - existem com base na percepção e não em fatos mais concretos.


“Nas eleições passadas, tivemos um grande número de denúncias que não foram à frente por falta de provas. Em alguns casos, queriam usar o órgão para se atingir um adversário. Isto é perder tempo. Tem que haver maiores dados”, explanou.
Para ele, é preciso que a população esteja atenta. Ele ressaltou ainda que existem mecanismos de resguardar o denunciante. “As pessoas precisam entender que não existem super-heróis, nem supervilões”, salientou ainda, ao enaltecer a participação popular no processo. 
Mudança na lei
O procurador Rodrigo Tenório destacou ainda a necessidade de mudanças da legislação e da reforma do próprio sistema. “O combate à corrupção eleitoral tem que ser feito com uma reforma legislativa. Um bom exemplo onde podemos observar a necessidade desta melhora é o mundo de faz de contas das prestações de conta. Isto tem que acabar”, sentenciou. 
Conforme Tenório, as prestações que ocorrem nos dias de hoje não representam resultados práticos para punir maus políticos. Ao falar da iniciativa do lançamento da cartilha pela Igreja Católica, o procurador ressaltou: “Evidente que ainda precisamos evoluir. Ainda não temos a participação das pessoas como deveríamos, como agentes do processo. Agora, ações como esta que estão sendo desenvolvidas pela Igreja são extremamente importantes, pois demonstra a possibilidade do envolvimento da população. Como já disse, o cidadão é o onipresente”, destacou.
Greve na PF
O procurador foi questionado sobre o prejuízo que representa uma greve da Polícia Federal bem no meio do processo eleitoral. A PF representa uma das principais forças no combate à corrupção eleitoral. 
“Nós reconhecemos o direito a greve dos servidores federais, mas sabemos também da importância da Polícia Federal neste momento de eleições. É claro que atrapalha o processo, mas há o direito deles. Então, temos que aguardar as negocia-ções”, avaliou Rodrigo Tenório.
Cartilha da Igreja
Sobre o lançamento da Cartilha de Orientação Política da Província Eclesiástica de Alagoas, o arcebispo metropolitano de Maceió, dom Antônio Muniz, destacou a necessidade de se mudar o quadro dos legislativos atuais por meio do combate à corrupção e conscientização política. 
De acordo com o líder da Igreja Católica em Alagoas, esta é a mensagem que a Igreja vai levar à popula-ção neste ano. Ao falar sobre isto, inclusive ironizou o parlamento estadual. 
“Esta deveria ser a Casa do povo, mas ainda não é”, lamentou Muniz. O detalhe é que Dom Muniz estava ao lado do presidente do Legislativo estadual, deputado Fernando Toledo (PSDB).Muniz disse ainda: “Embora saibamos que nem todos seguem a cartilha, refor-çamos que a Igreja irá lutar insistentemente pela vitória da cidadania. Essa é a luta da Igreja e dos bispos alagoanos”, defendeu. 
A cartilha
Quanto à cartilha católica, ela traz uma série de instruções para o eleitor, esclarecendo as práticas nocivas e os crimes eleitorais. “Sabemos que ainda estamos longe de realizar uma eleição 100% limpa, mas o objetivo de eventos como este é construir um Brasil com um pleito que cada vez mais tenha menos corrup-ção, que se respeite o espí-rito democrático”, encerrou dom Antônio Muniz. 
A cartilha foi organizada pela Comissão de Fé e Polí-tica da Arquidiocese de Maceió, com a adesão de toda a Província Eclesiástica de Maceió, composta pela Arquidiocese de Maceió e Dioceses de Penedo e de Palmeira dos Índios. O livreto será distribuído gratuitamente pela Igreja e entidades parceira.

Fonte tribunahoje.com

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